A influência do desejo parental nas dificuldades de aprendizagem:
A construção do sintoma do Não-Saber!
O desejo de conhecer e a curiosidade estão presentes na dinâmica da vida de todos nós desde o nascimento, mas alguns indivíduos apresentam dificuldades de aprendizagem.
Muitos fatores podem levar uma criança a apresentar dificuldades de aprendizado e estes devem ser sempre remetidos a sua história de vida e a sua relação com seus familiares, uma vez que o não aprender é um sintoma apresentado pela criança e como sintoma deseja expressar algo. O presente artigo tem como objetivo investigar e refletir acerca da influência do desejo parental sobre as questões de aprendizagem. Este trabalho visa colaborar com os profissionais que atuam com o diagnóstico e as intervenções psicopedagógicas oferecendo-lhes informações a cerca dos sintomas do não aprender.
O modo de aprender se constrói a partir dos vínculos estabelecidos com a forma que circula o conhecimento na família.
A dificuldade de aprendizagem pode ser a causa de um transtorno específico por parte do sujeito ou uma linguagem para dar conta de um meio familiar disfuncional. A discriminação de um polo ou outro para compreensão de como ocorre a aprendizagem do paciente é um dos principais objetivos do diagnóstico psicopedagógico.
Alguns autores psicanalíticos consideram o fracasso escolar como um modo de defesa do aparelho psíquico, levando a criança a uma inibição intelectual, ou seja, à construção do sintoma do não aprender. Este pode estar ligado, por exemplo, a uma recusa da criança em denunciar um segredo familiar, ou ainda ter origem no fato do sujeito não confiar na sua capacidade e, consequentemente, não ter autoria de pensamento. Na maioria das vezes, a criança fica fixada no resultado e não no processo como um referencial para o seu crescimento. Portanto, o significado dado à aprendi-zagem pelo grupo familiar, o modo como os ensinantes desejam essa criança como aprendente, poderão influenciar na construção da modalidade de aprendizagem.
O psicopedagogo deverá captar a dinâmica familiar, observar como o paciente é vis-to pela família, como todos lidam com as situações divergentes, se esse sujeito manifesta os seus sentimentos ou opiniões e se é ouvido.
Vale lembrar que a escola é uma extensão de casa, portanto, as relações tenderão a ser reproduzidas e projetadas na figura do professor, que naquele papel representa a autoridade. Se a criança não se sente aceita e respeitada por quem faz parte da sua família, dificilmente se sentirá como tal na escola, tendendo a evitar se expor, não sendo autor dos seus próprios pensamentos por medo da crítica ou por não exercitar a capacidade de julgamento e inferência. A criança pode depositar na pro-fessora ou na escola sentimentos agressivos originariamente destinados às figuras parentais (aos pais que ela tem representados dentro de si) e em sua imaginação sentir-se com muito medo de ir à escola ou de fracassar - conceito psicanalítico de transferência.
Para que a pessoa se considere autora do seu pensamento, é necessário que lhe seja oferecida a oportunidade de experienciar novas situações, correr riscos de for-ma saudável desde criança, por meio das brincadeiras, jogos e contato com os objetos do mundo que a rodeia. Essa possibilidade pode se concretizar ou não, dependendo da permissão que lhe for dada pelos pais. Só dessa forma, poderá enfrentar os obstáculos e, com o apoio necessário, construir uma autoestima positiva, baseada na confiança em si mesma.
Contudo, se diante do erro, for recriminada frequentemente e se esses erros são sempre realçados em detrimento dos acertos, descobrir algo pode se tornar sinônimo de castigo e repreensão e, portanto, de algo que gera sofrimento. Logo, as coerções excessivas e as mensagens negativas só servirão para exacerbar os conflitos, ao passo que o sujeito precisa, nesse momento, de um suporte afetivo dos pais e pessoas que o rodeiam, para que possa se sentir seguro, para enfrentar os obstáculos, e, consequentemente, ser motivado.
*Este post é parte do artigo apresentado à banca examinadora da Universidade Nove de Julho, como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia Clinica e Educacional. Clique aqui para acessar o artigo completo.